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Saúde Mental no Mundo Real

Saúde Mental no Mundo Real

Janeiro é o mês da conscientização sobre saúde mental. Entro nas redes sociais disposta  a encontrar informações sobre o tema, sem precisar mencionar o óbvio assunto que  predomina no mundo virtual no primeiro trimestre de todo ano, o BBB. Sou surpreendida com uma enxurrada de posts, comentários e discussões sobre  um suposto surto de uma participante do… , sim, o reality!

Como não acompanho o BBB, busco videos compartilhados. De cara, estranhei que o apresentador se refere à ela como “menina”; alguns colegas da casa também.  A “menina” em questão é uma jovem de 22 anos, muito famosa na rede de dancinhas. Alguém de quem eu ainda não tinha ouvido falar, mas com 40 milhões de seguidores, suponho que a desinformada seja eu.

O “surto” da “menina” resumiria o assunto mais comentado nos últimos dois dias. Uns internautas publicam um recorte de video para mostrar que ela não consegue concatenar ideias. Outro que ela não consegue concluir um assunto com nenhum dos outros confinados: em meio a frases desconexas, teorias conspiratórias e persecutórias. A chamada “influencer” chegou a questionar outros participantes, supondo que fossem todos atores, num enredo criado em função dela.

Como o Brasil é cheio de especialistas aleatórios, rapidamente apareceram psicólogos amadores sem formação avaliando o estado mental. Alguns adotando tom sério, outros na base do deboche. Há quem defenda que a emissora deveria “para o bem da saúde mental dela e dos demais” retirá-la da competição. Há também quem supõe tratar-se de abstinência “de celular”. Também tem gente que diga que ela não surtou, mas criou um personagem. Ou seja, estaria fingindo ser uma influencer surtada por causa de hate, preparando-se para não ser cancelada ao sair. Em qualquer, qualquer mesmo, dessas hipóteses, o comportamento merece atenção.

Imagino a quantidade de pessoas, especialmente nessa faixa etária entre a adolescência e a vida adulta, que estão vivendo descolados da realidade, numa realidade paralela particular criada em função do mundo virtual e da necessidade de validação. O medo do “cancelamento” e do bulling, o sentimento de abandono – emoções antes restritas a um pequeno grupo de amigos e/ou família, reverberando aos milhões. O isolamento, mesmo com milhões de seguidores. Internautas curiosos foram buscar os pais da jovem adulta, em meio a esse turbilhão de acontecimentos. Até o momento em que escrevi esse artigo, o que havia disponível era um video de dancinha do casal, e uma mensagem de video da mãe, dizendo-se muito satisfeita com a participação da filha no reality e mandando um recado para as pessoas preocupadas com a jovem: “cuidem da saúde mental de vocês”.

Observando a repercussão e quantidade de compartilhamentos de vídeos do “surto” da jovem, imaginei que, no dia seguinte, encontraria debates honestos e éticos sobre o assunto. Quem sabe um avanço para a conscientização sobre saúde mental?

Minha expectativa se mostrou frustrada, assim que abri as redes no dia seguinte. O assunto do momento já havia mudado. Agora o importante nas redes era sair em defesa de outro participante do BBB, alvo da influencer, um cantor brasileiro de funk que escolheu atender pelo singelo apelido de Bin Laden. E também explicar para o restante do mundo que “Bin Laden merece respeito” nada tem a ver com terrorismo.

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