ACONTECE NA SERRA DO RIO

A Internet somos nós!

A Internet somos nós!

O texto e a colagem desta coluna já estavam prontos quando resolvi dar um passeio pelo mundo virtual para uma olhada nos acontecimentos do Natal. Como tinha ficado fora do ar para cuidar da minha vida real, não tinha visto as publicações sobre o início das festividades de fim de ano nem sobre o que as pessoas pretendiam fazer no Revéillon. Talvez encontrasse algo que pudesse acrescentar ao meu artigo sobre promessas, resoluções, metas para 2024. Então, vi uma notícia séria, que me deixou estarrecida  e mudou tudo.

Uma jovem, linda, de 22 anos, se matou na véspera de Natal. O motivo: uma depressão profunda, agravada com o chamado cyberbulling provocado por uma fakenews de que estaria namorando uma celebridade. Esse era o resumo das matérias a respeito, algumas delas acompanhadas da defesa da PL das fakenews. Certifiquei-me de que tanto ela, quanto o famoso eram solteiros. Então, me perguntei: o que pode ter desencadeado isso?  Busquei informações e encontrei um print de um texto que ela havia publicado. Ali, estava o nó.

O perfil dela foi invadido por pessoas que a torturaram dizendo que ela não estaria “à altura” do famoso. Segundo ela própria, falaram de sua aparência, de sua classe social, de um suposto “não-merecimento”. Tudo isso, mesmo depois do suposto namoro ter sido desmentido. Num texto postado em seu perfil, a jovem pedia que parassem com aquele massacre, revelava a depressão e tentava entender a crueldade daquelas pessoas. A mãe dela chegou a postar um vídeo implorando que parassem; que a filha estava passando por um depressão profunda, inclusive com tentativa de suicídio. Não deram a devida atenção. E o final trágico aconteceu.

Dizem que a internet não perdoa. Essa fala sempre me causou um incômodo, porque tira a individualidade das pessoas que formam a internet. É como se não fossemos humanos que compartilhamos e expressamos aquilo que vivenciamos no mundo real – ou na fantasia de nossa personalidade real. É um anonimato coletivo que contribui para que as sombras psicológicas se manifestem, sem serem devidamente percebidas e expostas à luz.

Meu texto era sobre metas e resoluções. Era uma brincadeira sobre as promessas de fim de ano que a epidemia de coaches modernizou, passando a chamar de metas, como se mudar o nome fosse um passe de mágica para passar a serem cumpridas. Minha intenção era falar sobre viver o tempo presente; não como se não houvesse amanhã, mas com responsabilidade de parar de projetar para o próximo ano, o próximo mês ou a próxima segunda-feira.

Esse triste episódio da jovem me fez ver que é urgente refletir sobre quem somos realmente por trás das máscaras que usamos na internet. Sim, todos temos alguma, ainda que seja bem fiel ao que somos no mundo real. Mesmo que evitemos filtros nas fotos ou cenários irreais para postar no Instagram, podemos, sem nos dar conta, virar “massa” na internet se aceitamos fazer parte dessa “internet que não perdoa”.

Uma boa proposta de resolução ou meta – não para a virada do ano, mas para o momento presente: olhar para a pessoa que existe atrás do perfil nas redes sociais. Fazer isso, de imediato, já nos torna pessoas melhores para receber 2024. O ano é neutro, nem bom nem ruim. A internet também. O que faz a diferença é o que nós, humanos do mundo real, fazemos com esse recurso tecnológico chamado internet.

Não é a censura que resolve, mas a consciência de cada um de nós que damos vida ao mundo virtual. Que possamos nos tornar melhores para uma internet melhor.

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